segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Yasmîn

Na sexta feira passada, depois de um dia cansativo de trabalho, fui a um supermercado buscar umas coisas que me faziam mesmo falta (não fosse isso e ía era para casa descansar!).
Este supermercado tinha um parque de estacionamento.
Assim que paro o carro , estou eu entretida a desligar o rádio, quando ouço um "dedilhar" no vidro da minha janela.
Era ela.
Uma menina de 8 anos, que falava do lado de fora do carro, fazia "caretas", ria-se e batia levemente com as pontas dos dedos na janela do meu carro.
A primeira coisa que me passou pela cabeça foi raiva. Que coisa!!!! Aposto que os pais estão num canto qualquer a observar a miúda...e estão a usá-la exactamente por ser criança, numa de sensibilizar corações mais susceptíveis.
Eu não tinha moedas. Tinha uma nota de 20 euros. Acenei com a cabeça, ainda dentro do carro. Ela continuou na sua tentativa de chamar a atenção.
Saí do carro e disse: "eu não tenho moedas..." e ela respondia, com o seu sotaque estrangeiro "so una péquéninah".
"Não tenho!!!" insisti.
Ela insistiu. "Senhourah, eu não quere dinheiro, eu quer comer!"
Ah!!!Aí o caso muda de figura. E disse-lhe logo:
-"Ah é? Então olha, eu não tenho moedas mas vou lá dentro fazer umas compras e posso te trazer qualquer coisa para comer.Queres?"
-"Sim!"..."mas posso ir contigo?"
-"hum...mas vais-te portar bem??? Não vais fazer nenhuma asneira?"
-" não senhourah"
-" Então está bem, vem lá"
Ela nesse mesmo instante agarrou a minha mão...e se eu ainda tinha alguma defesa, desapareceu...apeteceu-me na hora levá-la para casa, enrolá-la num cobertor, e dar-lhe uma refeição quente.
Entrámos no supermercado.Fui primeiro buscar o que me fazia falta, e depois perguntei-lhe o que é que ela queria.Ela queria carne.
Durante a incursão pelo supermercado, ela ía falando, fazia-me perguntas, andava aos pulinhos...linda!!!Era a ternura em pessoa.
As pessoas ficavam a olhar para nós.Deixei-a escolher a carne.Meio quilo de carne de porco. Era óbvio que deveria ter uma familia algures faminta à espera de resultados do "trabalho" da miúda. Pensei logo: Ok...se é para ser uma refeição, que seja um pouco mais completa! Perguntei-lhe o que ela achava se levássemos um quilo de arroz.
-"Arroz?Ah, sim!"
-"Senhourah...e água? não ter água em casa..."
-"Ok"- respondi,- " vamos lá buscar água.
Ela carregava a carne, e eu um saco de 5 quilos de comida para o meu cão, e como entretanto até vontade de cozinhar eu já não tinha, uma Pizza congelada. Peguei nas 4 garrafas de água e começou a pizza a escorregar...ele rapidamente agarrou na pizza e disse "Eu levo para a senhourah!".
"Obrigado!"- Respondi-lhe.
Era Curda. Chamava-se Yasmîn.
Perguntei-lhe se ela conseguia carregar o saco com a carne, o arroz, e ainda as garrafas de água até casa,fosse onde fosse. Ela disse-me que tinha o irmão lá fora.Raiva outra vez! Pensei num inergumene de 20 anos encostado à parede, no escuro para não o verem, a fumar um cigarro.
Chegámos lá fora ela começou a chamá-lo. Era outra criança...devia ser um ano mais velho que ela.
Despedi-me dela, passei-lhe a mão pelo cabelo e fui-me embora sem olhar para trás...com medo...tristeza até...uma sensação de ter feito pouco.
Voltei lá no dia seguinte á tarde, munida de roupa quente que já não uso, camisolas, etc.
Mas a Yasmin já lá não estava.
Ficou a recordação da Yasmîn : loirinha, de cabelo apanhado, vestida com uns trapos maiores que ela e que, apesar da miséria, fome e tudo o mais que ela estaria a passar, tinha um sorriso lindo e uma boa-disposição que aquecia o coração mais frio.
Yasmîn.

2 comentários:

ricardo disse...

oi, de novo!
gostei do relato...
já percebeste que deixei uns quantos comentários...
vou passando por aqui, tá???
bjocas

Anónimo disse...

aii Luisinha como ja te tinha dito,emocionei-me muito com esta tua experiencia,até fiquei com a lagriminha ao canto do olho,quer dizer para dizer a verdade com os olhos águados :), sou assim ás vezes um pouko sensivel,se bem que ja fui mais!sou um coração de manteiga!Comoveu-me tudo e como ja sabes imagino a situação,enquanto lia a experiencia,tu,ela, o carro, o vidro, o super mercado, as pessoas tudo tudo!Olha Luisa quando eu digo que tu és uma pessoa Linda não é á toa,não é dizer por dizer,és mesmo!apeteçia-me tanto dar-te um abraço forte,apertadooooooo,sempre sentido,quando tiver cntg vou dar tá!aii estou de novo com os olhos águados!Obrigado por existires,ainda existem pessoas com coração!beijinhos miga estrela