sábado, abril 15, 2006

Eu tinha o meu coração bem guardado.
Tinha posto uma couraça forte que o protegia.
Afinal, já se passou tanto tempo desde a última vez que o meu coração bateu.
Mas eu sentia falta da sensação boa de estar apaixonada. Só que das vezes que me apaixonei, foi sempre por alguém que já conhecia há algum tempo, nunca fui daquelas coisas de “amor à primeira vista”, nem à segunda, nem à terceira.
Ao longo de todo este tempo, alguns potenciais reanimadores tentaram a audácia de quebrar essa couraça, mas sem sucesso.
Alguns eu tentei que quebrassem essa couraça, mas também sem sucesso. Conheci várias pessoas interessantes. Mas eu tinha fechado as portas. Ninguém poderia entrar.
“Que se lixe”, pensei eu, “ao menos não me queimo”.
Essa couraça era resistente. Impenetrável. Eu estava segura.
Até aquele dia na esplanada. Embora fosse perfeitamente possível eu te ter conhecido antes, quis o destino que te conhecesse naquele dia. Sem aviso.
Sentados frente a frente, vi o Sol a brilhar nos teus olhos, e fiquei enfeitiçada. E embora não estivéssemos sozinhos, era como se estivéssemos…eu não via mais nada…só te fitava embevecida, brincando nos campos verdes numa tarde de sol dos teus olhos.
“Mas o que é que se passa?” Perguntei a mim própria, num acesso de lucidez, “Tenho de ir reclamar a garantia desta couraça!”
Mas o destino quis brincar com o tempo, e fez-me ficar ali, embora tivesse obrigações a cumprir.
Foi então que me agarrei a ti, cravei as minhas unhas, e viajámos a uma velocidade louca entre o trânsito de pessoas que é a vida.
A última coisa que eu queria naquele momento era ir-me embora.
“Devo estar louca”, pensei. “Conheci-o ainda agora, falámos umas horas, e agora pareço uma parva!”.
Tentei, como de costume, racionalizar tudo aquilo, achar motivos.
-Ok. A couraça falhou, e num acesso de carência deu-me para isto. Não, não pode ser. Se assim fosse, podia ter acontecido ontem, ou noutra altura, com outra pessoa. A carência tem estado lá sempre.
- Ele é perfeito! Não, também não, longe disso.
No entanto eram perfeitas as tuas palavras. Eram perfeitos os teus gestos. Era até perfeito o teu nariz imperfeito. Era perfeito o teu sorriso, e perfeita a forma como cerravas os olhos quando sorrias. E a tua voz e forma calma de falar…perfeitas!
Quando voltámos, fui obrigada a ir embora. Não queria, mas tive de ir.
Meu Deus! São uma da manhã! E eu estou aqui, numa festa organizada por aquele que me tinha quebrado o coração há tempos atrás, o mesmo que me fez construir esta couraça à volta do coração, o mesmo que me fez perder a fé em tanta coisa importante.
Mas estou aqui, a testar a minha resistência aos seus encantos…e surpresa!…não me diz nada…a tarde na esplanada não me sai da cabeça. Tu não me sais da cabeça. O Sol reflectido nos teus olhos não me sai da cabeça.
O meu pensamento parece um disco riscado, o tempo todo a fazer “rewind” de todos os momentos da tarde.
Vou para casa. Vou dormir. É tarde, e amanhã vou trabalhar cedo. Será que o vou ver? Queria tanto o ver…e adormeço a pensar em ti.
De manhã acordo, e o que me ocorre de novo são todas as tuas perfeitas imperfeições.
E o dia todo um sorrisinho estúpido me perseguiu, provocado por cada lembrança tua.
“Não…isto não pode ser…eu tenho de tirar isto a limpo. Assim que acabo de trabalhar, volto àquela espanada. E encontro-te. E falamos. E eu vejo o Sol, os campos verdes, as imperfeições, tudo!
Eu tinha o meu coração bem guardado.
Mas tu roubaste-mo. A couraça ficou pequena demais para o guardar.
E agora estou cheia de medo. Aquilo que eu mais queria e ao mesmo tempo temia, aconteceu…

7 comentários:

Maria João Matos disse...

:) Boa sorte! Espero que encontres muito mais vezes o sol reflectido nesse olhar...

Nomyia disse...

O medo é natural. Mas sabes que as couraças não aguentam eternamente. Há de vir o tempo em que a couraça já não serve ou em que deixamos de a querer...
****

ricardo disse...

oi!
a vida tem destas coisas...quando deixamos de ter expectativas (para não dizer esperança), surge uma surpresa...um boa surpresa, neste caso!
espero que tudo corra pelo melhor...TU MERECES!
bjokas

NaLua disse...

Miúda,
e se te deixasses de tretas de couraças e vivesses o que mereces???

A viver a vida sem ninguém no coração, é uma merda. Mais vale não viver...

Beijo

Luisa Seabra disse...

Obrigado a todos.
NaLua:
Falar é fácil...e se mandassemos no coração ainda mais fácil seria!

Anónimo disse...

Tá lindo!!!! E estou a torcer para que a couraça desapareça por completo;)

Anónimo disse...

Pois é amorii de amiga,mas as coisas como sabes, não são assim, ás vezes criamos uma parede, para proteger o nosso coração pensando que é uma parreira firme, cheia de cimento e tijolos com betão armado pelo meio :) (coisas de desenhador projectista de construção civil)Lol um áparte!E quando menos esperamos, como um passe de mágica pufffff tudo vai ao ar e a parede que nos parecia firme caí, quero com isto dizer que nunca mas nunca,devemos evitar certas e determinadas coisas,nao devemos tentar ser fortes,quando o que brota no nosso coração, não são bocados de Pedra, nem cimento, mas sim amor, sangue, frágil coração e por isso deve ser cuidado e deixarmos que cuidem dele! Muitos beijinhos Lu e SER FELIZZZZZZ,a vida por vezes podem ser segundos